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Resumo aprovado no CIGRE Paris 2026 — Impactos dos IBRs na Proteção Convencional e Alternativas Emergentes (B5/PS2)

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CIGRE Paris 2026

Temos o prazer de compartilhar o resumo aprovado para o CIGRE Paris 2026 no Grupo B5 — Protection and Automation (Synopses), tema preferencial PS2 — Protection and control in networks with unconventional sources:

“Impacts of IBRs on Conventional Protection Functions and Emerging Alternatives.”

Este artigo apresenta o contexto, as lacunas técnicas e o plano de contribuição focado na realidade de redes com alta penetração de IBRs (Inverter‑Based Resources) — eólico, solar, armazenamento — e seus impactos sobre as funções clássicas de proteção.


1) Contexto e motivação

  • A crescente participação de conversores eletrônicos no sistema elétrico altera a “física” da rede: baixa inércia, corrente de falta limitada/controlada, dinâmica de tensão/frequência e conteúdo harmônico diferenciam substancialmente os cenários de curto‑circuito.
  • Funções tradicionais como 50/51, 67, 21, 87, 79, 68/78 foram concebidas para fontes síncronas com perfis de corrente e impedância distintos. Em redes com IBRs, surgem zonas de indecisão, falsos não‑desarmes e erros de zoneamento.
  • A transição exige novos critérios, maior observabilidade e validação sistemática — do estudo à prova prática.

2) Efeitos dos IBRs nas funções de proteção

  • Sobrecorrente (50/51) e direcional (67):
    • Limitação ativa de corrente de falta; ângulo e harmônicos alteram o pickup e a direcionalidade.
    • Risco de sub‑sensibilidade e perda de seletividade, especialmente em “fonte fraca”.
  • Distância (21):
    • Impedância aparente distorcida por controle do conversor; infeed/outfeed agravado; polarização comprometida.
    • Maior incerteza em zonas longas e em contingências com múltiplos IBRs.
  • Diferencial (87):
    • Curtos com baixa corrente e assinaturas atípicas pressionam a sensibilidade e a contenção a CTs.
    • Sincronismo e latências de canais tornam‑se críticos (particularmente em topologias IEC 61850).
  • Religamento (79) e oscilação de potência (68/78):
    • Perfis de tensão/frequência pós‑falta com controles do conversor podem confundir lógica de detecção/estabilidade.
    • Janelas de “fast reclosing” e permissivos exigem reavaliação.

3) Alternativas e caminhos emergentes

  • Proteção adaptativa:
    • Ajustes dinâmicos com base em contexto da rede (fração IBR, SCADA/EMS/DMS, PMU).
    • Perfis operativos por “estado de rede” (normal, contingência, ilhamento, black‑start).
  • Critérios baseados em V/f e dinâmicas agregadas:
    • Elementos sensíveis a tensão/frequência/ROCOF para cenários de baixa corrente de falta.
    • Lógicas híbridas combinando magnitude, direção e dinâmica temporal.
  • Medições sincrônicas e alta resolução:
    • PMU/synchrophasors, detecção rápida de ângulo/frequência;
    • Ondas viajantes para faltas de baixa corrente e localização mais precisa.
  • Integração IEC 61850 e automação avançada:
    • Lógicas distribuídas, GOOSE/SV, coordenação de zonas e intertravamentos.
    • Supervisão contínua de desempenho (self‑monitoring) e KPIs de proteção.
  • Validação em HIL (Hardware‑in‑the‑Loop):
    • Ensaios dinâmicos ponta‑a‑ponta com modelos de IBRs para testar funções sob múltiplos cenários e perturbações.

4) Metodologia proposta (do estudo ao campo)

  1. Modelagem de curto‑circuito com IBR modelos detalhados (limitação, controles, PLL).
  2. Análise de impacto por função (50/51/67, 21, 87, 79, 68/78) em cenários “fonte forte” × “fonte fraca”, infeed/outfeed, ilhamento.
  3. Definição de critérios híbridos (I/V/ROCOF/ângulo, TW, PMU) e regras de adaptação por estado de rede.
  4. Provas em HIL com casos reprodutíveis; comparação entre lógica convencional e alternativa/adaptativa.
  5. Métricas e KPIs de desempenho: sensibilidade, seletividade, tempo, robustez a ruído, estabilidade.
  6. Roadmap de implantação: requisitos de comunicação, sincronismo, governança de ajustes e observabilidade.

5) KPIs e evidências de desempenho

  • Sensibilidade mínima sob limitação de corrente de falta (pickup real vs. referência).
  • Tempo ponta‑a‑ponta (detecção → decisão → trip) com variabilidade estatística.
  • Seletividade entre zonas/estágios (falsos positivos/negativos).
  • Robustez a distorções harmônicas e dinâmica de tensão/frequência.
  • Disponibilidade sob falhas de comunicação e degradações de PTP/IRIG‑B.

6) Entregáveis esperados

  • Casos de estudo comparativos (convencional × alternativas) em cenários típicos de IBRs.
  • Diretrizes práticas para utilities, integradores e fabricantes: ajustes, testes, critérios de aceite.
  • Arquiteturas de referência com IEC 61850, monitoração e governança de mudanças.
  • Lista de verificação para comissionamento e regressões em ambientes com alta penetração de IBRs.

7) Implicações para utilities e integradores

  • Revisitar filosofias de proteção e interações com controle (plantas e agregadores).
  • Elevar a observabilidade (PMU, TW, KPIs) e a disciplina de testes dinâmicos (HIL).
  • Incorporar proteção adaptativa com governança, cibersegurança e trilhas de auditoria.
  • Planejar a transição: convívio entre parques convencionais e IBRs com coerência operacional.

Conclusão

A penetração de IBRs redefine premissas de proteção. Para manter seletividade, velocidade e segurança sistêmica, é indispensável combinar novos critérios, observabilidade avançada e validação dinâmica. Nossa contribuição no CIGRE Paris 2026 (B5/PS2) foca em encurtar o caminho entre a teoria e a prática, com casos, métricas e guias aplicáveis.

Próximo passo sugerido: podemos estruturar um workshop técnico (estudo → HIL → KPIs → roteiro de implantação) adaptado ao seu parque de ativos, acelerando decisões e evitando retrabalho em campo.


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